segunda-feira, 31 de março de 2014

A DITADURA EM CAMOCIM - A MARCHA DA VITÓRIA

A data de 31 de março ou 01 de abril de 1964, como queiram, é emblemática para a história do Brasil. A partir desse marco, vivemos duas décadas no obscurantismo em regime de exceção. De uma maneira ou de outra, cada lugar do Brasil viveu as repercussões do período ditatorial. Em Camocim, não poderia ser diferente, ainda mais por termos aqui representantes das Forças Armadas (Exército e Marinha), nas instituições do TG 10 001 e Capitania dos Portos. Na política, também tivemos momentos em que o novo regime se apresentava nas mais diversas nuances. Para exemplificar, trazemos um trecho da 6ª Sessão Ordinária da 5ª Legislatura, de 17 de abril de 1964, portanto, dezessete dias após o golpe civil-militar:
"Usou da palavra o Snr. Vereador Otávio de Sant'Ana que se reportou sobre o assunto constante nas atas e continuando convidou esta Câmara a tomar parte na concentração e passeata nas principaes ruas desta cidade a se realizar amanhã às 15 horas pela Família Camocinense, na Marcha da Família com Deus com a Liberdade e Democracia em congratulação às Gloriosas Forças Armadas de nossa querida Pátria pela extinção do Credo Vermelho, infiltrado em todo território nacional pelos maus brasileiros".
Vale ressaltar que o Vereador Otávio de Sant'Ana era militar da reserva da Armada e fora Capitão dos Portos em Camocim. Por outro lado, as atas seguintes não dão conta de como se desenrolou a tal marcha pela cidade. Seria interessante que pudéssemos recuperar alguma outra fonte dessa marcha como um depoimento, uma fotografia, um documento, etc. Por outro lado, como Camocim teve uma célula tradicional do Partido Comunista, a ênfase da fala do vereador, transcrito na ata, ganha mais sentido. Atentar também para a inversão de significado das palavras e dos conceitos, como por exemplo, democracia.A marcha, convocada em nome da Liberdade e da Democracia, punha fim a um governo  eleito democraticamente e iniciava um período ditatorial.


Fonte: Arquivo da Câmara Municipal de Camocim.Respeitou-se a grafia da época.
SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. A Casa do Povo. História do Legislativo Camocinense. Sobral: Sobral Gráfica, 2008, p.95.
Foto: giovanipasini.com

quinta-feira, 20 de março de 2014

DITADURA MILITAR EM CAMOCIM - 50 ANOS DEPOIS

Difícil de uma data como os 50 anos do Golpe civil-militar de 1964 passar incólume na história de algum município brasileiro. Como maior ou menor resquício, algum evento, alguma pessoa ou grupos estiveram no contexto dessa fase triste da história do Brasil, de um ou de outro lado. As repercussões desse fato são tantas, que mesmo após a historiografia mostrar o lado cruel deste período, hoje, pessoas e movimentos tentam se levantar para a reedição de marchas que culminaram com a tomada do poder civil pelos militares de então. A sanha e a ignorância são tamanhas, que chegam ao ponto, em suas convocatórias hodiernas, que o grande perigo atual é o de nos tornarmos uma "ditadura comunista". Ditadura por ditadura, já sabemos que elas não são o melhor tipo de governo. Dessa forma, Camocim também se inscreve neste contexto de repressão e resistência ao golpe de 1964. Os documentos provam isso e recuam até a uma ditadura anterior a de 1964, a ditadura Vargas. Desde lá, podemos constatar estas duas possibilidades: políticos locais e autoridades atuando como repressores, assim como cidadãos questionando o estado das coisas. Sempre é bom lembrarmos que, se hoje, estes grupos que tentam reeditar eventos como a Marcha pela Família, com Deus, foi porque pessoas lutaram para termos pelo menos o direito de expressão assegurado, direito este negado por mais de 20 anos na recente história brasileira. Em postagens posteriores, enfocaremos estes momentos da nossa história, procurando suas ligações com a política nacional.
Fonte: oabrs.org.br.