domingo, 31 de julho de 2011

HISTORIADORES DE CAMOCIM - CARLOS MANUEL DO NASCIMENTO


Na árdua missão de levar a história do município ao conhecimento de todos, mais uma seção se abre no blog - Historiadores de Camocim. Apresento-lhes, portanto, Carlos Manoel do Nascimento, historiador da nova geração que vem dando sua contribuição para a historiografia local e renovando as práticas de ensino de história na cidade. Como seu orientador na Graduação de História na UVA, selecionei um trecho se dua monografia intitulada "A CIDADE NAS ONDAS DO RÁDIO - Memórias e Histórias dos Serviços de Alto-Falantes de Camocim", que trata sobre A VOZ DE CAMOCIM, uma das amplificadoras da época. Confiram.

Na tentativa de acompanhar o trem da modernidade, o Serviço de Alto-falante A Voz de Camocim surge, por volta do ano 1951, como novidade e sinônimo de animação e interação social. Trazia como slogan o propósito de ser “o mais moderno e organizado serviço de Alto-Falante do interior do Ceará”. [1] Seu proprietário era o Sr. Murilo Aguiar que, prontamente, após a briga com o seu opositor político, traz da capital do estado um potente instrumento de comunicação, para o deleite de muitos. O Sr. Olímpio Magalhães foi um dos primeiros locutores dessa amplificadora, viu de perto o seu nascimento, participando diretamente de sua organização. Ele apresenta com detalhes como isso ocorreu:


O proprietário era o seu Murilo Aguiar, foi ele que chegou com essa novidade por aqui, uma amplificadora beleza, 75 watts de saída e 3 alto-falantes instalados na cidade. (...) Um é ali perto, na Praça da Estação, naqueles armazéns que tem, parece ser do Endemburgo Aguiar, perto da Estação, né?, Naqueles armazéns, um alto-falante era ali; o outro aqui mais no centro, aonde era, onde hoje é aquela farmácia, que era a Loja do Gato Preto, tinha a Loja do Gato Preto, loja de tecido; e o terceiro em cima da Prefeitura, aqui do lado de cá, pro oeste, aqui pra praça, aqui pra cá, bem do lado de cá. (...) Ah! A sede ali, vizinho a Rádio União, aquele aonde serve até de coisa política, comitê político, era ali, ainda hoje ta lá, a sala grande ali na frente e por trás o estúdio, né?. E ela, potência boa. [2]


Nessa época, segundo o Sr. Olímpio Magalhães, existiam no Ceará somente duas amplificadoras desse modelo potente e “de fabricação inglesa”, uma aqui em Camocim, e a outra em Crateús, denominada Príncipe Imperial. (...) Ao pesquisar sobre as antigas amplificadoras no Ceará, foi possível confirmar a informação apresentada nessa narrativa. Segundo a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Crateús era uma cidade provida de muitos aspectos culturais, entre eles duas amplificadoras (...) O serviço de alto-falante A Voz de Camocim funcionava em um pequeno prédio situado à Praça da Estação Ferroviária, pra ser mais preciso à “Praça 15 de Novembro Nº 16, Caixa Postal 3. CAMOCIM – Ceará – BRASIL,” [3] conforme consta nos recibos emitidos pala amplificadora. Sob a direção do Sr. Sebastião Lins, “ela entrava no ar” a partir das 18:00h, se estendendo até por volta das 23:00h, todos os dias da semana. Seu alcance sonoro estendia-se por vários cantos da cidade, pois além de ser uma amplificadora “forçante”, possuía três bocas de alto-falantes distribuídos em pontos estratégicos da cidade: a Praça da Estação, local de embarque e desembarque de viajantes, ambiente de trabalhadores do porto e ferrovia e passeio público; a Prefeitura Municipal, situada na Praça da Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes; e no Mercado Municipal, centro comercial da cidade e também passeio público. A locução e animação dos programas ficavam por conta de Evandro Moreira e Olímpio Magalhães. (...) O estilo da amplificadora A Voz de Camocim eram bem diversificado: tinha uma programação musical animada, fruto de uma boa e variada discoteca patrocinada pelo seu proprietário; divulgava os comunicados da cidade; fazia anúncios de propaganda das lojas e festas, “comerciais lidos” mediante pagamento; tinha noticiários políticos e jornalísticos, onde se liam as manchetes publicadas nos jornais o Unitário e Jornal Correio do Ceará, entre elas os artigos da coluna “As Oposições Coligadas”, escritas por Temístocles de Castro e Silva; prestava serviço de utilidade pública, anunciando materiais achados e perdidos ou pessoa que estavam à procura de alguém ou que acabara de chegar à cidade; liam-se bilhetes e recadinhos apaixonados; registro de aniversário e recital de poesia, enfim, comunicava e movimentava às “mornas noites camocinenses” levando diversão e entretenimento.


[1] Ver fonte (recibo timbrado emitido pela amplificadora A Voz de Camocim) apresentada na pág. 47 deste trabalho.

[2] Olímpio Magalhães, entrevista já citada.

[3] Ver fonte (recibo timbrado emitido pela amplificadora A Voz de Camocim) apresentada na pág. 47 deste trabalho.

Foto: Desfile de 7 de Setembro, com cobertura da Amplificadora Pinto Martins. Fonte da Foto: Arquivo do autor do trabalho.

sábado, 30 de julho de 2011

SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES DE CAMOCIM - CONSTRUÇÃO CIVIL


O surto associativo em Camocim deu-se principalmente entre as décadas de 1920 e 1950. Coincidentemente, tal surto corresponde ao auge das atividades do porto e da ferrovia. Afora isso, note-se também que neste período, a sociedade camocinense experimentou momentos de politização tanto à esquerda como a direita, organizando-se em associações mutualistas, beneficentes, civis, religiosas, literárias, esportivas e sindicatos. O blog objetiva recuperar a historicidade destas entidades, trazendo seus documentos, objetivos e fundadores destas agremiações que ainda hojem estão em funcionamento, como o SINDICATO DA CONSTRUÇÃO CIVIL, objeto desta postagem. No registro do sindicato, identificamos a presença de vários comunistas e simpatizantes, o que revela a presença destes militantes nos espaços do mundo do trabalho. Trancrevemos abaixo o Registro Civil de Pessoas Jurídicas do referido sindicato:

Ano: 1953. Mês: Agosto. Dia: 17 . Protocolo: 150. data: 17 de agosto de 1953.
SOCIEDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL E OFICIOS VÁRIOS - CAMOCIM. EXTRATOS DE ESTATUTOS: DENOMINAÇÃO, DURAÇÃO, FINS E SEDE - A Sociedade da Construção Civil e Ofícios Vários tem duração de tempo indeterminado, número de sócios ilimitados e sede na Cidade de Camocim, Estado do Ceará. Seu objetivo é prestar todo o genero de benefícios e defesa de seus associados. (...) Sócios fundadores e Diretoria: São sócios fundadores da entidade os senhores FRANCISCO ARAUJO DE CASTRO - Presidente; VIRGILIO JOSÉ DE MARIA, Vice-presidente; MANOEL GOMES DA SILVA, 1º Secretário; MANOEL ROSENDO PEREIRA, 2º Secretário, GUMERCINDO GUIMARÃES, 1º Tesoureiro, JOÃO BATISTA DA SILVA, 2º Tesoureiro, ANTONIO TEIXEIRA, ANTONIO ELEUTÉRIO E FRANCISCO RODRIGUES DE OLIVEIRA, Diretores e Sócios: José Felício Sotero Lopes, Francisco Rodrigues dos Santos, Manuel Furtado de Mendonça, Pedro Teixeira de Oliveira, Francisco Bezerra dos Santos, Alexandre Furtado Filho, Alfredo Leandro Sousa, João Francisco de Sousa, João Paulo Vasconcelos, Francisco Joaquim Lima, Pedro Damásio, Irídio Barros Galvão, Artur Paulo, Francisco Rodrigues e Silva, Francisco Assis Sales, Paulo Pereira de Brito, Francisco Torres, Manoel Ricardo da Silva, Francisco Xavier de Maria, Josias Ribeiro de Sousa, Raimundo Aragão Carneiro, Florencia Cardoso, Martiniano Joaquim, Rogério Gomes Coutinho, Justino Ferreira, José Henrique, Manoel Rodrigues Freire, Aquiles Felix, Francisco Gabriel do Nascimento, Virgínio Ferreira de Barros e Sebastião Ferreira de Sousa, Camocim 16 de junho de 1953.

Fonte: Cartório André. Registro de Pessoas Jurídicas.


Foto: camocimonline.com

GABINETE CAMOCINENSE DE LEITURA

Os gabinetes de leituras eram entidades literárias que se espalharam pelo Ceará desde o final do séc. XIX com objetivos civilizatórios a partir do hábito da leitura. Segundo José Ramos Tinhorão, esse tipo de associação literária surgiu na Província do Ceará para “absorver as primeiras inquietações intelectuais dos pequenos núcleos de classe média de antigas vilas que o novo surto de progresso ia transformando em cidades”. Desta forma, os gabinetes eram uma espécie de academia na época que floresceu em algumas cidades do interior como Aracati, Granja, Barbalha, Ipu, Crateús, Viçosa, Camocim, dentre outras.Constituídos de homens letrados da cidade, muito aos moldes das academias de letras francesas, os gabinetes acabaram se tornando mais do que um espaço do saber, mas, também de sociabilidades de uma nascente elite que queria se diferenciar de outros grupos sociais da cidade. Em Camocim, além de uma biblioteca, funcionava uma escola para jovens alunos. O Gabinete Camocinense de Leitura foi fundado por Júlio Cícero Monteiro e Francisco Menescal Carneiro no ano de 1913. A pequena biblioteca do Gabinete Camocinense de Leitura, em 1932 foi adquirida pela Associação Comercial e, atualmente, lá se encontra, com alguns livros escritos em francês (Associação Comercial- Ata de 1º de julho de 1932, f.93) . Na diretoria de 1919 temos a seguinte composição:

Presidente: Dr.Hermes Parahyba.

Vice-presidente: Tobias Navarro Leitão.

1º.Secretário: Artur Barbosa.

2º Secretário: José da Paschoa Sobrinho

Orador Oficial: Antonio F. Barros

Bibliotecário: F. Menescal Carneiro.

Foto: Associação Comercial de Camocim, onde se encontra o espólio bibliográfico do Gabinete Camocinense de Leitura.

Fonte da foto: panoramio.com

A CRIAÇÃO DA COMARCA DE CAMOCIM

A criação de uma COMARCA é como se fosse um atestado de maioridade de uma comunidade. Dentro do processo de "independência" de um distrito, a criação da Comarca, no plano civil, juntamente com a Paróquia no plano religioso, são estágios que consagram a criação de um município, que na maioria das vezes são criados por outros critérios (população, economia, etc), mas, que ainda levam algum tempo para efetivarem estas instâncias,adminstrativas ficando o jovem município ainda atrelado à antiga jurisdição civil e religiosa. Em Camocim não foi diferente. Todos sabemos que o desmembramento territorial do vizinho município de Granja ocorreu ainda no século XIX, mais precisamente em 29 de setembro de 1879. Pois bem, o primeiro pároco, Padre Leandro Teixeira Pequeno, só foi nomeado quatro anos depois, em 1883. Já a criação da Comarca demorou mais tempo. Foi preciso mais de meio século para que tivéssemos um juiz na cidade, independente de Granja. Somente em 9 de junho de 1948, a Lei Estadual Nº213, de forma definitiva, deu a Camocim o estatuto jurídico de COMARCA. Antes, houve uma tentativa de criação em 8 de novembro de 1943, que foi suprimida duas vezes. Foi finalmente instalada a 13 de agosto de 1948.

Foto: defensoriaecidadania.blogspot.com