sexta-feira, 18 de março de 2011

ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE FERROVIÁRIA - ABECEDARIUS CAMOCINENSIS


Mesmo não sendo um sindicato formalmente, a Sociedade Beneficente Ferroviária possuía características parecidas, que iam desde a caixa de pecúlios à defesa dos direitos de seus associados. Com feição nitidamente mutualista, a SBF era mais uma das associações que se fundaram com esse propósito, como por exemplo, a Mutualidade Camocinense, a Cooperativa de Consumo das Classes Trabalhistas de Camocim, a Associação dos Retalhistas de Camocim (até hoje em atividade).

Salta aos olhos a longevidade deste tipo de associação. Embora mutualistas, elas ainda atraem as pessoas que vêem neste tipo de sociedade uma segurança para momentos de aflição, como a morte e apertos financeiros outros. Antes mesmo da fundação da SBF, aparece no jornal comunista “O Operário”, editado em Camocim, a notícia da criação da Caixa Auxiliadora do Pessoal da Estrada de Ferro de Sobral, com os objetivos de “concessão de empréstimos, pecúlio e instrução literaria e profissional”, assim como a composição de sua primeira diretoria. A veia crítica do editor do jornal, no entanto, não deixa passar uma observação que desnuda os objetivos da sociedade mutualista já no seu nascedouro: “N.R. Nessa directoria não figura a nome de nenhum operário. Pobre gente esquecida. Esquecida para as direcções e lembrada para entrar com o cobre”. 1 Pela questão levantada pelo editor do jornal, observa-se que este tipo de sociedade muitas vezes podia nascer da tutela de patrões, ou no caso em tela, por uma elite de funcionários dentro da hierarquia do funcional da Estrada de Ferro de Sobral.

Fundada em 23 de julho de 1932, a SBF congregava os mais diversos tipos de funcionários da ferrovia, do engenheiro ao aprendiz que pagavam cotas diferentes e abrangia toda a extensão da Estrada de Ferro de Sobral, de Camocim a Crateús, num raio de mais de 300 quilômetros. Com sede própria, funcionava à Rua Santos Dumont e dividia o espaço de reuniões com outra agremiação, a Liga de Defesa dos Ferroviários e uma sala de aula para filhos de ferroviários, prioritariamente.

Sobreviveu ao tempo um livro de atas que vai de 1947 a 1950 e um Livro de Registro de Associados datado de 1936-39. Neste livro consta o tamanho da entidade quanto ao número de sócios. No ano de 1936 eram 275 associados. Já em 1939 esse número era quase o dobro: 486 associados, dentre estes, 60 eram esposas de sócios. 2 Vários documentos avulsos e pastas com documentação burocrática recente até os anos 1990 (recibos, contratos de locação, formulários escolares etc.) completam o acervo da SBF, hoje sob a guarda de um memorialista local. A sede foi vendida para um descendente de um dos sócios.

FOTO: Antônio Carlos P. dos Santos - 2007

1 O Operário, Anno IV, nº 68, p.3. Camocim-CE, domingo, 5 de outubro de 1930. Grifo nosso.

2 No ano de 1936 o quadro de associados apresentava trinta e cinco profissões e funções diferentes, incluindo as esposas, em número de 24. Outras profissões com seu respectivo número, para efeito de ilustração: Trabalhadores (66), Operários (59), Guarda-Freios (16), Feitor (14), Servente (13), Agente conferente (09), Maquinista e Conferente telegráfico (07 cada), Mestre de Linha, Escrevente, Agente, Guarda Estação e Pedreiros (05 cada), Escriturário, Ajudante de Trem, Servente Escriturário, Vigia, Guarda Fio (03 cada), Chefe de Trem, Bagageiro, Aposentado e Servente de Oficinas (02 cada), Engenheiro, Pagador, Servente de 1ª Classe, Ajudante de Distribuição de Material, Chefe de Depósito, Construtor, Auxiliar Técnico, Estafeta, Praticante, Guarda Chaves, Auxiliar de Armazém e Aprendiz (01 cada). SBF. Livro de Registro de Associados. 1936. Camocim-CE.

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